“Deixar corpo no chão”: alunos são flagrados cantando música violenta em escola cívico-militar no Paraná

 “Deixar corpo no chão”: alunos são flagrados cantando música violenta em escola cívico-militar no Paraná

Foto: Redes sociais

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra estudantes marchando e cantando uma música com apologia à violência no Colégio Estadual Cívico-Militar João Turin, em Curitiba. As imagens foram divulgadas pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (App-Sindicato). Assista acima.

A data da gravação não foi revelada, e o secretário de educação Roni Miranda afirmou que apura se o vídeo é atual ou de um caso que aconteceu em 2023. Nas imagens, é possível observar os estudantes marchando em volta de uma quadra, sob supervisão de um monitor, enquanto cantam uma música que faz referência ao Batalhão de Operações Especiais (Bope), unidade da Polícia Militar (PM).

O g1 optou por borrar o vídeo porque as imagens mostram estudantes menores de 18 anos. O nome do monitor não foi oficialmente divulgado.

Confira a letra cantada pelos estudantes:

“Homem de preto, o que é que você faz?
Eu faço coisas que assusta o satanás.
Homem de preto, qual é sua missão?
Entrar na favela e deixar corpo no chão.
O Bope tem guerreiros que matam fogueteiros.
Com a faca entre os dentes, esfola eles inteiros.
Mata, esfola, usando sempre o seu fuzil.”

Em nota, a Secretaria de Educação do Paraná (Seed) afirmou que convocou os diretores da escola onde os alunos foram filmados entoando a música.

“Os colégios cívico-militares têm se destacado em grandes projetos educacionais, como o Ganhando o Mundo e o Maratona Tech, torneio nacional de tecnologia no ensino que teve o Estado como grande campeão. Manifestações nessa linha não condizem com o compromisso do Paraná baseado em educação cidadã e transformadora”, diz a Seed.
O g1 questionou também qual o ano da turma envolvida no episódio e se haverá alguma medida em relação aos responsáveis envolvidos, mas a secretaria não respondeu.

No Paraná, 345 escolas fazem parte do modelo cívico-militar. Nessas escolas, a gestão é compartilhada entre dois diretores: um civil, responsável pela parte pedagógica, e um militar da reserva, que cuida da disciplina e rotina, com apoio de policiais e bombeiros também da reserva.

A APP-Sindicato, que representa os trabalhadores da educação pública do Paraná, criticou a ação ensinada aos alunos e questionou a conduta, destacando que a letra entoada pelos estudantes faz apologia ao ódio e à violência, especialmente contra populações periféricas.

“É chocante ver que a escola pública esteja sendo usada para promover uma doutrinação ideológica extremista, que prega o ódio, a violência, o massacre e o extermínio de comunidades periféricas. Isso é muito grave e reforça a nossa luta contra a militarização da educação e a urgência do Poder Judiciário determinar o fim desse programa ilegal e inconstitucional”, afirma a presidenta da APP-Sindicato, Walkiria Mazeto.

Desde 2021, o programa de colégios cívico-militares no Paraná é alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF).

A ação, ajuizada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), pede a declaração de inconstitucionalidade da lei que institui o programa e do artigo que tira das escolas cívico-militares a obrigação da realização da consulta à comunidade escolar para a escolha de diretores.

Em março de 2024, o relator da ação, Dias Toffoli, determinou que o caso fosse levado ao Plenário para julgamento definitivo. Não há prazo para que isso aconteça.

Para uma escola estadual do Paraná se tornar um Colégio Cívico-Militar, é feita uma consulta pública para a comunidade escolar decidir se aprova, ou não, a ampliação. Antes, o governo propõe a oferta do programa para colégios específicos por meio de projetos de lei que tramitam na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).

Quando os projetos são aprovados, a próxima etapa é a consulta. Podem participar da votação os pais ou responsáveis por alunos matriculados nos ensinos Fundamental e Médio, estudantes maiores de 18 anos, professores e funcionários pertencentes ao quadro de servidores da instituição.

Para a adesão dos modelos, a votação deve atingir um quórum mínimo de 50% mais um voto.

Uma vez aprovado o modelo, dois diretores passam a comandar a escola: um civil, que cuida da parte pedagógica, e um militar da reserva responsável por tratar de questões como disciplina e hierarquia.

Os dois gestores são escolhidos pela Secretaria de Estado da Educação, sem participação da comunidade escolar na escolha.

Neles, os alunos precisam usar um uniforme específico, composto por uma farda fornecida pelo governo estadual. Além disso, há monitores militares participando da rotina escolar. A quantidade varia conforme o tamanho de cada escola.

Nessas escolas, o currículo de aulas dos estudantes também é diferente e inclui estudo da Constituição Federal, além de bases do direito e cidadania.

Fonte: G1

Redação DV Agora

Notícia relacionada