Em meio ao luto, a jornalista Adriana Ibba, mãe da menina Liz Ibba dos Santos, de 3 anos, que morreu após a queda do avião da VoePass em Vinhedo (SP), batalha para tirar do ar perfis falsos nas redes sociais criados a partir de informações dela e da filha.
Adriana mora em Cascavel, no oeste do Paraná, cidade de onde partiu o avião envolvido no acidente aéreo de 9 de agosto e que matou a filha dela, o pai da menina, Rafael Fernando dos Santos, e outras 60 pessoas.
A mãe de Liz relata que algumas das páginas pedem doações e outras têm utilizado o engajamento para compartilhar jogos de azar.
“É muito complicado, porque diante de tudo tão novo que a gente tem que aprender a partir de agora a lidar, ter que lidar também com essa questão do uso do nome da minha filha, de imagens da minha filha. […] Ter que ter forças para lidar com situações que não precisavam estar acontecendo, com situações totalmente desnecessárias”, afirmou Adriana.
Ela acionou a Justiça e conseguiu decisão liminar (provisória) determinando a derrubada de pelo menos 62 contas falsas criadas após o acidente.
“Tem conta de treze, quinze mil seguidores e, a partir do engajamento que se ganha com a imagem da minha filha, essas contas começam a veicular, por exemplo, anúncios de jogos online e especificamente também contas que utilizam do acidente até agora pedindo arrecadação de dinheiro”, contou Adriana ao g1.
Adriana conta que logo após o acidente aéreo passou a identificar diversas contas falsas com imagens dela e da filha, algumas inclusive pedindo doações em dinheiro para supostos trâmites de translado e enterro.
Amigos e familiares foram monitorando os perfis e os denunciando, mas mesmo assim as páginas permaneciam no ar. Então, ela moveu uma ação na Justiça para pedir a remoção imediata dos perfis e a responsabilização das redes sociais pela falta de controle sobre o conteúdo publicado.
Em decisão liminar, a Justiça atendeu ao pedido e determinou a retirada imediata do ar dos perfis, sob risco de multa. Como o processo tramita em segredo de Justiça, o valor não foi informado.
TikTok e Meta – donas de empresas como Instagram, Facebook e WhatsApp – foram intimadas a retirar do ar os 62 perfis descritos na ação.
A advogada Ana Luiza Amarante atua na defesa de Adriana e informou que o TikTok cumpriu integralmente o pedido.
Porém, a Meta, de acordo com a advogada, derrubou a conta particular que Adriana tinha criado para a filha Liz e ainda mantém ativos alguns perfis falsos citados no processo.
“Nosso pedido será para que o Facebook não só cumpra a decisão, derrube as contas faltantes, mas também devolva o perfil [particular de Liz]. A partir dessa liminar, o juiz arbitra multa diária, enquanto o Facebook não cumpre, ela vai se acumulando com o passar dos dias”, afirmou a advogada.
O g1 contatou a Meta sobre a situação, mas não obteve resposta até a última atualização desta publicação.
Para o jornalista e advogado Ney Queiroz Azevedo, especialista em Direito Digital e Negócios, a criação de perfis falsos nas redes sociais é algo criminoso.
“Não são simplesmente golpistas, enganadores, mas são efetivamente criminosos, da pior espécie, porque se utilizam de tragédias e principalmente da boa-fé das pessoas”, afirmou o especialista.
O advogado afirma que a prevenção precisa começar através da educação e da busca das pessoas por informações de qualidade. De acordo com ele, uma dica para evitar cair em golpes ou perfis falsos é sempre estar atento e saber que golpistas se utilizam da boa-fé das pessoas.
Além disso, ele explica que, mesmo confiando em determinados perfis, ao envolver pedidos de dinheiro e informações pessoais, a pessoa sempre deve buscar outras redes sociais ou pessoas ligadas ao perfil para checar a veracidade.
Adriana sabe que o caminho ainda é árduo, uma vez que após a ação judicial outros perfis falsos, utilizando fotos dela e da filha, já foram identificados. Mas ela não perde a esperança de que em algum momento possa viver o luto e faz um pedido:
“Se você ver imagens, contas, utilizando de fotos de vídeos da Liz, a gente está falando de uma criança de três anos e dez meses, ela é menor, eu não autorizei o uso dessas imagens. Por respeito à memória da minha filha, eu faço apelo por favor, denuncie”, pediu a mãe.
Fonte: G1
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